Direção artística

Cabral Pinto
Cabral Pinto, Diretor Artístico da XXI Bienal Internacional de Arte de Cerveira

Num tempo em que o mundo quase parou…

Num tempo em que o mundo quase parou, num tempo em que fomos confrontados diariamente com o medo, sentimentos de ansiedade e incerteza ou dúvida, num tempo de mudança forçada de vida de todos nós, num tempo em que um vírus provocou um impacto grande na arte e na cultura em todo o mundo, num tempo em que os espaços culturais foram fechados os artistas plásticos habituados ao trabalho isolado no seu espaço próprio – o atelier, não ficaram de braços cruzados e continuaram a criar.

E muitos foram aqueles que refletiram nas suas obras a amplitude da doença e divulgaram nas redes sociais esta pandemia mostrando como a arte pode unir-se na luta contra a doença. Há projetos baseados no tempo de confinamento que estão presentes nesta edição da Bienal. Também a programação desta Bienal sofreu alterações. A XXI Bienal Internacional de Arte de Cerveira é apresentada num formato duplo, cruzando a exposição física, nas suas condicionantes, com uma programação para o digital. Este modelo vai permitir ao público a visita virtual à bienal de arte mais antiga do país e da Península Ibérica a partir de qualquer parte do mundo. É também uma forma de reforçar o projeto de internacionalização do evento. Assim, nesta edição volta a ter importância decisiva o concurso internacional que contou este ano com 740 propostas das quais um júri, constituído por personalidades de prestígio das artes plásticas, selecionou 92 obras de oitenta artistas oriundos de 16 países. Estes números revelam que a comunidade artística continua a acreditar no projeto Bienal de Cerveira como um palco de oportunidades para artistas emergentes.

O concurso internacional teve como tema “Diversidade e Investigação” - O complexo espaço da comunicação pela Arte. Considerando que as linguagens usadas pelos variados grupos sociais, sejam verbais, sonoras, escritas ou pictóricas, são determinantes para a compreensão do espectador, independentemente do grau de cultura, desde que possam ser descodificáveis por esse espectador e propensas a influenciá-lo. Este facto é sobretudo fulcral quando se trata de uma obra de arte, onde, mesmo um sujeito com um grau de cultura elevado, pode não ter capacidade de “ler” essa obra, já que a sua própria linguagem não se harmoniza com o discurso da obra. A arte sempre suscitou interpretações várias, inconstantes, eventualmente erróneas, originando, quase sempre, uma paleta de visões diferenciadas. A expressão da arte não se limita àquilo que fica na tela ou na figura, mas armazenada em todo aquele que se declara sintonizado com a mensagem do artista. Como afirma Celso Kelly “...o êxito da recetividade decorre, pois, do poder expressivo da criação, de seus recursos intrínsecos, da sua potencialidade artística”.

Foi este o desafio feito aos artistas nesta edição que surge num tempo dos mais difíceis da nossa existência coletiva, que irá permitir pela sua multiplicidade de propostas, proporcionar uma reflexão sobre a nossa cultura para uma melhor qualidade de vida pelo “conhecimento”, com os olhos postos num futuro cada vez mais tecnológico.

Cabral Pinto
Diretor Artístico