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Residências Artísticas 2014 | Coletivo apresenta trabalho esta quinta-feira, 30 outubro

Residentes coletivo 2014

Residências Artísticas 2014 | Coletivo apresenta trabalho quinta-feira, 30 outubro, 16h00

O coletivo composto por Ana Catarina Pinho, António Pedrosa, Bruno Fonseca, Lara Jacinto, Miguel Proença e Tommaso Rada (PT/IT) apresentou, a 30 outubro, no Fórum Cultural, o resultado de um mês de trabalho na Casa do Artista Jaime Isidoro.

Este projeto na área da fotografia de nome “Fronteira”, debruçou-se sobre ‘Os limites do território construído’. A linha fronteiriça, delimitada pelo rio Minho, é repleta de história, desde os grandes eventos aos mais populares. Outrora representou um território disputado entre Portugueses e Espanhóis. Mais recentemente, durante a ditadura, era o caminho de fuga da pobreza e opressão. Também a economia da região foi influenciada, criando novos tipos de comércio e negócios.
Venha conhecer o trabalho deste coletivo de fotógrafos que foi documentando a comunidade cerveirense e do Alto Minho, de forma a honrar a memória, história e explorar as novas fronteiras físicas e metafóricas, constituintes da nossa sociedade.

 

Leia os testemunhos de alguns dos artistas do coletivo

site tommaso Tommaso Rada

“O trabalho que estou a desenvolver parte do facto que a fronteira aqui no Norte de Portugal e Espanha é o rio, portanto uma fronteira líquida. E isso inclui uma troca entre um lado e outro, que tem sempre no meio rio, como caminho comum, e envolve todo o desenvolvimento de uma comunidade do outro lado do rio, seja em Cerveira seja nos outros pontos do rio Minho, do lado espanhol e português. Portanto é uma mistura entre paisagens, lugares e pessoas que vivem ao lado do rio que são influenciadas e que vivem graças a ele.

A residência correu bem apesar de ter sido foi pouco tempo. Seria preciso um ano. Antes de começar fotografar é necessário fazer os contactos, e como eu não falo espanhol tive este problema linguístico. Mas, em geral, em Cerveira as pessoas são muito abertas.

Em Cerveira fiquei extremamente admirado por todas as iniciativas que são promovidas e também por ser diferente das outras cidades e vilas que estão à volta: muito mais aberta, jovem, a criar iniciativa, a querer ser diferente das outras, que é algo muito positivo.”

 

site bruno Bruno Fonseca

“O meu projeto é relacionado com o salto, um fenómeno que se deu em quase todos os concelhos fronteiriços e não só – eu sou de um concelho que não é fronteiriço e no qual houve muita gente na década de 60 que também deu o salto.

Propus-me desenvolver este trabalho com um bocadinho de investigação, com apoio de pessoas locais que deram a cara pelo “salto”. A história foi-se desenvolvendo e hoje já envolvi mais pessoas que não só as que deram o salto mas que fizeram parte integrante da história, que sem elas não existiria o fenómeno “salto”. Refiro-me aos passadores, aos engajadores e os guardas-fiscais que de vez em quando tinham de tapar os olhos a troco da sua participação. E tenho fotografado as pessoas que deram a cara.

A minha ideia inicial era tentar fazer o mais fiel possível o retrato do que foi, mas é muito difícil pedir a pessoas com 80 e tal anos virem até ao rio para serem fotografadas. Portanto o conseguir com que viessem até ao rio já foi muito bom e assim conseguiu-se ter uma linha condutora. O rio era o principal obstáculo. A partir daí cada pessoa tinha o seu próprio esquema combinado. Desde pessoas que passaram em Lapela, Verdoejo, as Furnas, na praia de Lenta, na Praia da Mota, Lanhelas, etc.

E ouvir histórias de algumas pessoas que diziam “Foi mesmo aqui que passei”. Foi fascinante ver as pessoas a recordarem aqueles tempos difíceis, mas que ficaram para trás. Algumas pessoas estavam mais reticentes a falar da história. Mas penso que o objetivo foi cumprido. Hoje nós ainda sabemos o que é o termo fronteiro, apesar de já não existir fisicamente conforme era. Mas daqui a 30 anos as pessoas não saberão o que isso quer dizer. Penso que a mensagem se conseguiu passar.

Consegui falar com cerca de 12 pessoas. E não só as pessoas que deram o salto porque senão seriam 20. A história é feita pelo passador, o engajador e a pessoa que dá o salto. Essas pessoas são essenciais para a história, caso contrário não existe. O guarda-fiscal foi um “bónus” que me apareceu. Fez anos de patrulha na Praia da Mota. Eu não fugi muito de aqui. Tentei-me concentrar ao máximo nas gentes do ou ligadas ao concelho. Os pontos de passagem eram diferentes, estive em Lapela, na ponte Tui-Valença, e fui à estação de comboio de Guillarey, que eu penso que 99% das pessoas passaram por lá, segundo os relatos dos locais.

Tenho relatos até espaçados no tempo: pessoas que foram logo na primeira leva em 60, outras em 70; e pelos mais variados motivos: desde a fuga à tropa, ao sistema imposto,…. Há uma pessoa que me relatou que durante alguns anos fez a passagem, era filho de contrabandista, portante a arte estava lá, chegou a fazer a tropa, não fugiu por esse motivo, mas como tinha um dia teve à polícia à perna ele próprio teve de dar o salto.

Outros que fizeram serviço militar lá fora na Guiné Bissau, por exemplo, e só depois de cumprir serviço militar em África deram o salto.”

 

site miguel Miguel Proença

“Eu partia sempre com um tema definido, mas desta vez decidi delimitar uma área geográfica – Vila Praia de Âncora até Melgaço – fazendo uma linha paralela até Espanha, até ao Monte de Santa Tecla. E a minha ideia foi explorar esta área e fotografar o que achava interessante com um fio condutor.

Gostei de passar este tempo aqui em Vila Nova de Cerveira, tem mais qualidade de vida aqui do que o Porto, por exemplo. Há apenas o problema de que, sendo uma vila pequena, por vezes a oferta é mais limitada.

O meu trabalho é essencialmente em retrato e paisagem. Como trabalho com uma câmara bastante antiga que não é digital, dá para interagir muito mais com as pessoas, enquanto monto o tripé, etc.

O que une este o colectivo é o gosto pela fotografia documental.”

 

site lara Lara Jacinto

“O coletivo tem como tema comum a Fronteira e comecei a investigar um pouco essa questão aqui neste espaço e percebi que esta teve um peso enorme no passado, condicionando a vida das pessoas, quase como uma barreia intransponível, mas que hoje em dia não é assim e ainda bem. A Fronteira continua a existir fisicamente, mas há uma flutuação enorme de pessoas entre um lado e o outro. Portanto, neste momento, as diferenças são quase inexistentes.

Investiguei sobre uma tentativa, que existe mais do lado espanhol, de criar uma identidade luso-galaica, que não é uma negação da identidade de cada país mas que caminha ao lado disso. Há uma espécie de utopia relacionada com a união dos dois povos. E eu pretendi que as imagens que resultaram desta minha viagem pela fronteira física expressassem um bocado essa partilha e essa não separação. Até mesmo em questões paisagísticas e há muita semelhança entre um lado e outro. Eu quis que o trabalho expressasse um pouco essa igualdade.

A experiência foi muito positiva, mas atribulada. Não deu tempo para fazer tudo o que queria. Mas foi muito bom estarmos todos juntos e partilhar experiências. Apesar de sermos um coletivo o trabalho foi individual. Cada um tentou dar o seu cunho e posicionar-se dentro esse tema.”

 

Ana Catarina Pinho
“A experiência de participar na residência artística da Fundação Bienal de Cerveira foi bastante interessante por vários factores, entre os quais realizar um projecto temático com outros colegas fotógrafos, sob a forma de um colectivo.

Desenvolver este projecto está a permitir explorar e conhecer, mais pormenorizadamente, a área de Cerveira e recuperar imensas histórias e vivências do passado dessa zona, que são extremamente interessantes e inspiradoras.

Tenho trabalhado com imensas pessoas locais que se demonstram bastante curiosas com o projecto e receptivas em participar, o que ajuda bastante todo o processo de pesquisa, da construção deste objecto visual e, permite igualmente, intensificar a minha ligação às pessoas e ao local.

O período de residência é de um mês, o que não será o suficiente para finalizar o projecto que pretendo realizar, mas serviu como ponto de partida para algo que quero desenvolver com maior profundidade e para o qual pretendo continuar a trabalhar durante os próximos meses, de forma a apresentar o meu trabalho final no próximo ano.”