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LIVRE TRÂNSITO_CICLO PERMANENTE DE RESIDÊNCIAS E INTERVENÇÕES ARTÍSTICAS | OFICINA ARARA (PT)

Miguel Carneiro, Mafalda Santos, Nuno Silas e Bruno Borges

O projeto Livre Trânsito – Ciclo Permanente de Residências e Intervenções Artísticas, 2023- 2024, pretende recuperar Vila Nova de Cerveira como território de ação e criação artística, estabelecendo uma relação entre a Casa do Artista Jaime Isidoro, os espaços oficinais do Fórum Cultural de Cerveira, bem como as várias freguesias de Vila Nova de Cerveira.

Esta triangulação visa promover a experimentação artística, convidando artistas em residência a explorar e a conhecer o território, promovendo o encontro direto entre artistas, a comunidade e os seus públicos.

Neste contexto a OFICINA ARARA (PT) apresenta “OLHO DA RUA” – ação coletiva em colaboração com Joaquim Pires, a Unisénior Universidade Sénior de Cerveira, a APPACDM de Valença e Ponte de Lima e do público em geral.

Nuno Silas (MZ) apresenta “Metamorfose: Arquivo Anómico e outros sons” – uma instalação performativa, que inclui som e vídeo, entre outros elementos encontrados e recolhidos em Vila Nova de Cerveira, questionando a ideia de arquivo, o seu significado e relação com legados coloniais.

O resultado dos trabalhos realizados será apresentado no próximo sábado, dia 28 de outubro, no 2º Ciclo Expositivo de 2023 do Museu Bienal de Cerveira, a partir das 16h00, no Fórum Cultural de Cerveira.

Curadoria: Mafalda Santos

OFICINA ARARA – Arena de criação e outras curvaturas

Bruno Borges e Miguel Carneiro, OFICINA ARARA

Diz-se que a semente foi trazida pelo vento, mas isto das sementes tem muitas histórias por onde cair. Sabe-se é que, após décadas de ser engolida pela terra de um ermo da cidade do Porto, finalmente torna-se árvore cujo galhos chamam a si os pássaros. Decorria então o ano de 2010. Criaturas de várias espécies fizeram ali ninho e dali resultou um espalhafato de cores, cantorias e, claro, impressões pecaminosas no chão que a árvore cobria.

Por olhos mais humanos, a Oficina ARARA é um laboratório de atividade psicotrópica, equipada para trabalhar em serigrafia a sob a mecânica caos-cómica da sua Brutamberg. É projetado como um espaço autónomo e aberto de experimentação em torno da produção de cartazes, livros e outras criações de inflamação sónico-visual, tentando estabelecer uma relação direta, multidimensional e ininterrupta entre o ato de desenhar e a impressão de múltiplos.

A Oficina Arara abre periodicamente a casa para diferentes momentos de encontro e catarse coletiva, manifestações sinestésicas, exorcismos e rituais de acasalamento, que são o prolongamento da sua ação numa inscrição cíclica de um tempo e de um território comunitário. Ao longo dos anos estilhaçou fronteiras dentro e fora dos galhos, criando voos umbilicais com diferentes bandos de grafistas e ativistas bárbaros.

Fazem parte dos anéis do tempo da árvore: Bruno Borges, Daniela Duarte, Dayana Lucas, Irina Pereira, João Alves, Luís Silva, Miguel Carneiro, Pedro Nora, Von Calhau.

No contexto da residência artística Livre Trânsito, a Oficina Arara apresenta no Auditório José Manuel Carpinteira, OLHO DA RUA – ação coletiva em colaboração com Joaquim Pires, a Unisénior – Universidade Sénior de Cerveira, a APPACDM de Valença e Ponte de Lima, e do público em geral.

Tomai da nossa parte
o corpo inteiro que já não nos pertence inteiramente
Olhai-nos com o olho da rua
onde chamaremos pelo leite derramado
que o demónio da consciência já não chora
Tomai um papel virginalmente negro
e esburacai-o
para que a luz se espalhe
de ambos os lados das paredes
Tomai as cores históricas da ortografia
e os erros rasurados da tinta permanente
Tomai os rabiscos que cantam como assinaturas
os rascunhos obscuros fugidos ao mercado branco
os pontos as linhas e os planos de fuga
que escapam por um triz
à máquina de branquear
Tomai bem conta das intenções
pois que o inferno as reclamará
Tomai a sério
a mão que se enfia no calor do bolso
a mão que degola as aves
desenha o adeus
e perde as chaves de casa
a mão que rejeita o atalho do braço
e se agita imitando o afogamento
a mão que cultiva o embaraço da escolha
a mão modelo da rua vindoura
estrela e rizoma
Tomai a sério a mão do vedor
buscando água ao cabo do tremor da vara
Tomai a sério o jogo do sério
que as mãos brincalhonas brutalmente jogam
E porque uma parede
é a razão nua que liga
em duro
o céu à terra
possa ela ser-vos página
de verso servo e rima na mira
temor a termo e morte a metro
com poesias de passeio
e proas de prosa
pedras de destino
e perdas de sentido

Regina Guimarães