O coordenador Artístico da XIX Bienal Internacional de Arte de Cerveira, Cabral Pinto, anunciou a homenagem a uma das maiores referências da arte em Portugal, o artista multidisciplinar Ernesto de Sousa (1921-1988), promotor de sinergias entre gerações de artistas da primeira e segunda metade do século XX.
A curadoria estará a cargo da historiadora Paula Pinto e do Centro de Estudos Multidisciplinares Ernesto de Sousa (CEMES), que propõem “apresentar ao público uma abordagem inédita do artista: o estudo visual do seu trabalho fotográfico da primeira metade dos anos sessenta, enquanto ferramenta e veículo do seu pensamento”, explica Cabral Pinto.
Biografia
Ernesto de Sousa (Lisboa, 1921–1988) foi uma das figuras mais complexas e activas do seu tempo, um prolífico artista multidisciplinar e um ávido promotor de sinergias entre gerações de artistas da primeira e da segunda metade do século XX. Defensor de uma expressão artística experimental e livre, dedicou-se ao estudo, divulgação e prática das artes, como à curadoria, crítica e ensaística, à fotografia, ao cinema e ao teatro.
Na década de sessenta, entrou em contacto com o movimento Fluxus e as neo-vanguardas europeias, travando amizade com Robert Filliou e Wolf Vostell. Este contacto foi uma influência determinante para a reformulação da arte como “obra aberta”, experimental e participativa, são disto exemplos o exercício teatral Nós Não Estamos Algures (1969), o filme expandido Almada, Um Nome de Guerra (1969-1972) e o mixed-media Luíz Vaz 73, obras colaborativas da sua autoria.
Durante esta década, e até aos anos oitenta, organizou cursos, conferências e exposições sobre filme experimental, vídeo-arte, performance e happening, promovendo pontos de contacto entre as neo-vanguardas internacionais e o contexto português.
Ao propor a celebração do Aniversário da Arte de Robert Filliou (Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, 1974), Ernesto de Sousa antecipou a Revolução dos Cravos e contrariou a posição periférica de Portugal na Europa. A exposição “Alternativa Zero” (Galeria Nacional de Arte Moderna, Lisboa, 1977) sintetiza o seu projecto de criação de uma vanguarda portuguesa em diálogo estético e ideológico com as suas congéneres internacionais.
Publicou, desde a década de quarenta, intensamente em revistas e jornais, sendo a sua crítica instrumental para a divulgar em Portugal práticas artísticas experimentais. O seu forte envolvimento no movimento cineclubista, do qual foi fundador em Portugal, foi um contributo para a eclosão do “Novo Cinema” anunciado pela sua única longa-metragem Dom Roberto (1962), distinguida com dois prémios no Festival da Cannes em 1963. Importa ainda referir o estudo que desenvolveu acerca da arte popular portuguesa e a sua teorização no âmbito da arte contemporânea bem como a revisão da obra de Almada Negreiros, o “ingénuo voluntário” cuja obra anticipava as ideias que Ernesto defendia.
Foi comissário da representação portuguesa na Bienal de Veneza em 1980, 1982 e 1984.
Foram-lhe dedicadas as exposições retrospectivas Itinerários, em 1987, organizada pela Secretaria de Estado da Cultura (comissariada por José Luís Porfírio, Leonel Moura e Fernando Pernes) e Revolution My Body, em 1998, na Fundação Calouste Gulbenkian (comissariada por Helena de Freitas e Miguel Wandschneider).
A Fundação de Serralves apresentou, em 1997, uma reposição da “Alternativa Zero” na celebração dos vinte anos desta exposição e, em 2012, uma reinterpretação dos mixed-media Almada, Um Nome de Guerra e Nós Não Estamos Algures.
O Centro Internacional de Artes José de Guimarães organizou, em 2014, a exposição “Ernesto de Sousa e a Arte Popular – Em torno da exposição ‘Barristas e Imaginários‘”.
Criada em 1992 a Bolsa Ernesto de Sousa apoiou, até 2013, vinte jovens artistas na realização de projectos intermedia durante um estágio na Experimental Intermedia Foundation, em Nova Iorque.
Fonte: http://www.ernestodesousa.com/biografia