Apresentada por Jaime Silva, a curadoria “Tempo, Espaço e Identidade” integra artistas de diferentes gerações, nos quais se reconhece fundamentada a preocupação e a reflexão sobre questões do tempo presente, abordadas pessoal e distintamente.
A mostra encontra-se patente no espaço da mezzanine do Fórum Cultural de Cerveira.
Artistas representados: Álvaro Carneiro, Atelier Contencioso, Diana Costa, Isaque Sanches, Mário Cabrita Gil, Pedro Saraiva e Roberto Santandreu.
MÁRIO CABRITA GIL
O seu trabalho em Cinema e a sua prática fotográfica, mas também a interiorização corporizada pelo próprio, através da intervenção digital e/ou de instrumentos científicos – este seu lado performativo – define uma postura activa de compreensão e reconhecimento do que nos molda e conforma, segundo o desígnio das sociedades contemporâneas.
INTER SOMNIA INSOMNIA é constituído por um conjunto de peças de apreciável formato, fotos digitais assumidas no interstício entre o analógico e o digital.
Do Espaço e do Tempo, imagens do cérebro do autor, obtidas por ressonância magnética, reflecte sobre os limites do humano. São apresentadas através de projeção vídeo.
ÁLVARO CARNEIRO
Cheio e vazio, contentor e contido, o quente e o frio, o liso e o rugoso, o atenuado e o incisivo – subentendem uma pesquisa que refaz o conceito de organicidade estrutural.
As peças apresentadas não são então só definíveis pela episódica circunstância do que o autor junta e agrega, nem mesmo pelo acrescentar de um quid de pensamento simbólico, mas porque na realidade, acede a uma formulação outra, em registo depurado, que lhe concede a aura de um pós-minimalismo.
ATELIER CONTENCIOSO
O Atelier Contencioso partindo de um pensamento site-specific, apresenta uma peça constituída por quatro leques. A intervenção sobre cada um dos leques, através de diferentes texturas e opacidades, associa possíveis significados da utilização do leque, em contexto da sua tradicional utilização. Em tempo de reflexão e em que se fala da igualdade de género, este assumido discurso transversal é absolutamente pertinente.
ISAQUE SANCHES
Fez sentido para mim, no âmbito da Curadoria proposta, estabelecer contacto com este jovem autor que “sabe” tecnologicamente do assunto digital, mas que não reduz a sua actividade aos estreitos limites da área tecnológica, bem pelo contrário.
As suas preocupações são outras e interrogantes da construção do humano (da sua definição num contexto de redefinição) a que hoje assistimos. Por isso mesmo, a sua produção aproxima-se e distancia-se de outras versões da arte contemporânea, assumindo por vezes um carácter confessional.
Na Bienal de Cerveira, na sua XX edição, são apresentados: “The Witch” (2017); “haruspicina” (2017) e “[de telefone na mão, não sabendo que teclas premir]” (2017), todos eles disponíveis com versões para Windows, Linux, e Mac.
DIANA COSTA
Integra esta Curadoria com a proposta “Removed Reality”. “As peças, pelo seu conjunto e pelo momento em que se agregam, constroem uma nova dimensão que coexiste com a dimensão original…” (palavras da autora).
A citada dimensão é um reflexo ou um eco do nosso mundo
…solicitando ao espectador a construção de um real indeterminado e metafórico, que latamente decorre dos propósitos a priori indefiníveis de cada um de nós.
PEDRO SARAIVA
Recria e efabula com mestria. Procede a cruzamentos biográficos de personagens com destinos diversos, que entendemos como heterónimos.
Os gabinetes individualizados, na sua nomeação e apresentação, reúnem fragmentos de vida – em forma de fotos, desenhos, gravuras, esculturas, pinturas… em alucinante multiplicidade de formas de expressão, que lhe permitem “…sobrepor identidades, significados e temporalidades”. A obra de Pedro Saraiva, coloca-se num registo de indeterminação fundamentado e fundamental. Quem é quem? Quem disse o quê?.
«Textos de Jaime Silva, curador da exposição