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Ainda a Coleção e os seus artistas | Um para-surrealismo com Isabel Cabral e Rodrigo Cabral

Isabel Cabral (n.1949) e Rodrigo Cabral (n.1942) ocupam um espaço de elegante constância na vida e na história da Vila das Artes, marcando a coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira (FBAC) também através da presença de uma obra de Arte em espaço público. Catedral (300x600cm), de 1999, é exemplo da linguagem para-surrealista e experimental que marca o “Projecto Comum” que estes dois artistas iniciaram em 1987. Em Catedral combina-se a plasticidade do aço corten à vista com o material policromado num vibrante encarnado que se santifica ao centro do complexo escultórico. A duplicidade da cor e as formas ondulantes, acentuadas na vertical, são também a essência de Torre dourada (300x170x170cm), de 2004, obra de arte, pertencente também à coleção da FBAC, que integra a exposição “Volumes e interações na história”, patente no Mosteiro da Batalha até 29 de setembro de 2019. Isabel e Rodrigo juntam-se a um grupo mais alargado de artistas e obras da coleção da FBAC, através dos quais se indaga o património e a imagética do gótico.

Ainda que “Projecto Comum” de Isabel Cabral e Rodrigo Cabral se tenha iniciado apenas em 1987, os dois artistas têm outros pontos comuns na sua biografia. Realizaram o Curso Complementar de Pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto (atual FBAUP), em 1973 e 1972, respetivamente, e dedicaram uma parte do seu percurso à atividade docente: Isabel na Escola Secundária Soares dos Reis e Rodrigo da Escola Superior Artística do Porto e na FBAUP. Combinaram sempre a atividade artística e docente com uma intensa ação de dinamização cultural, sendo, atualmente, proprietários da Galeria Serpente, situada da Rua Miguel Bombarda, no Porto. A cidade do Porto conhece-os e reconhece-os neste domínio, tendo ambos feito parte de direções da Cooperativa Árvore, do Teatro Experimental do Porto e do Cine Clube do Porto. Fizeram, ainda, parte do Grupo Acção de Graças, em 1986. O trabalho conjunto que desenvolvem materializa-se através da instalação, da escultura, da performance, da poesia visual, da pintura e da arte postal, tendo a inegável marca da cor e do campo lexical e plástico de iconografias surreais e da imaginação. Diversificam os suportes e técnicas que utilizam e centram-se na criação de composições e formas sinestéticas, enérgicas em que há uma profusão de elementos geométricos com pequenas referências vegetalistas ou mesmo animais.

Isabel Cabral e Rodrigo Cabral são um duo de artistas altamente premiado, com dezenas de exposições realizadas em Portugal e além fronteiras e com obras presentes em coleções tais como as do Museum fur Moderne Kunst, Weddel, Alemanha; Fundação Joquim Nabuco, Recife, Brasil; Fundart, Araraquara, São Paulo, e Museu Rio Pardense, Brasil; Museo Internacional de seu Art, Vancouver, Canadá; Temporary Art Museum, Dinamarca; Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante, Portugal; Museu Municipal de Espinho, Portugal; Fundação Cupertino de Miranda, Portugal ou o Post Museum, Estocolmo, Suécia. O espaço público tem, nomeadamente em Portugal, também acolhido várias das suas propostas.

Com um campo conceptual aberto e limpo, não raras vezes subliminarmente político, a obra de Isabel Cabral e Rodrigo Cabral apresenta uma grande unidade visual, ainda que diversificada nas técnicas e tecnologias e marcada por uma dimensão experimental de salutar. Identificamos quando estamos perante as suas formas angulosas, os desenhos divertidos de pontos, linhas e planos que se cruzam ou na decifração de um vocabulário, quase infantil, subconsciente e surreal que acicata a capacidade comunicante do que nos propõe. O espaço público de Vila Nova de Cerveira é também deles e agora, no Mosteiro da Batalha, deambulam também os desafios de cor e forma desta dupla portuense.

 

« texto de Helena Mendes Pereira