A obra do escultor Alberto Vieira (n.1956), com expressão no espaço público, fundamentalmente, minhoto, não privilegia matérias, diversificando-se entre a pedra, os metais e a cerâmica. Em 2018 apresentou-se na XX Bienal Internacional de Arte de Cerveira (BIAC) com “Impulso”, obra em metal que assumia a forma de uma bicicleta e que incluía iluminação led que nos iludia em relação ao movimento do objeto. Contudo, no âmbito das comemorações do São João de Braga, a cidade acolheu uma estátua de homenagem a São João Baptista, em pedra, refletindo ambas que, do ponto de vista das temáticas e das formas de representação, Alberto Vieira é também plural.
A coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira (FBAC) integra duas obras do escultor bracarense que expõe, coletivamente, desde 1989 e, individualmente, desde 1994. Uma delas, “Casa-tanque” esteve recentemente exposta na Sala dos Passos Perdidos, espaço nobre da Assembleia da República que acolheu uma exposição de comemoração, simultânea, dos 40 anos da BIAC e do 25 de abril de 1974, despertando a curiosidade de quem por lá passava. “Casa-tanque” (240x110x90 cm) é um objeto interativo, em metal, que através de um sistema mecânico itinera a sua posição entre a forma de um tanque de guerra e a de uma casa estilizada, levando-nos a refletir sobre a forma como a guerra se tornou no nosso quotidiano. A obra venceu o Prémio Baviera na XII BIAC, realizada de 16 de agosto a 21 de setembro 2003, facto que não surpreende se considerarmos, para além da dimensão estética do objeto, a intensidade e pertinência da sua mensagem e a combinação de tecnologias que vão do trabalho em metal à mecânica. No seguimento da exploração de materiais de sugestão industrial e no encadeamento dos objetos com um certo pendor satírico, em 2005, no âmbito da XIII BIAC, realizada de 20 de agosto a 17 de setembro de 2005, Alberto Vieira apresenta “Verde Minho” (62x62x18cm) com recurso aos metais e a uma sobreposição de elementos, que nos iludem pela parecença de pneus, mas que assumem a forma de corações. “Verde Minho” integra também a coleção da BIAC e é mais um exemplo feliz, nas palavras de Manuel Alberto Vieira, de que o artista “(…) esculpe como quem poetiza. As pontas dos dedos estão lá, numa erudição de espírito maior do que a que figura nos compêndios que podem ser decorados. O seu trabalho tem o mérito de nos fazer rir do atroz, do doloroso, daquilo de que todos fogem.”[1]
Artista amplamente premiado, Alberto Vieira assume-se como um experimentalista, colocando o seu humor depurado em cada desafio e abrindo as suas possibilidades de abordagem matérica e temática, procurando sempre agregar novas tecnologias e formas de fazer que intensifiquem a mensagem da obra de arte e permitam ao espetador um cruzamento de leituras. De Alberto Vieira esperamos sempre o novo e, sobretudo, que nos envolva no processo de conclusão da obra de arte, fazendo-a depender da nossa interação.
[1] http://www.albertovieira.com/index.html in 4 de outubro de 2018.
Texto de Helena Mendes Pereira